MEU QUERIDO SAPATO VELHO: UMA PEQUENA CRÔNICA DA VIDA REAL.

Era o meu sapato velho, o testemunho da minha parceira e Eu.

Estava próximo do Natal e costumávamos   passear nas lojas para ver as novidades. Era uma segunda feira do dia 17 de dezembro de 2007, em pleno horário de verão.

Eu estava à procura de um par de sapatos que preferencialmente fosse um mocassim social cor café/marrom.

Estávamos saindo da loja, Mônaco Calçados situado à rua 6 n° 344 QD 52, centro, quando o vendedor solicitou que esperasse um pouco.

Após alguns minutos o vendedor Cláudio desceu com uma caixa, trazendo um par de sapatos Cromo Alemão, Super Mocassim S-103 Social, cor café, que estava reservado para um cliente especial que esqueceu de buscar no prazo combinado.

Estilo comum, simples, sem adereços, elegante, chique, bonito, parecia feito para uma pessoa nobre. Mas não era macio. Eu também não estava à procura de perfeição, e não era o meu caso, um Médico Veterinário, ex-funcionário público e pequeno empresário.

Fechamos o negócio às 19:36:44 h. conforme registro no cupom fiscal.

PRESENTE DE NATAL (O SAPATO)

Devo ressaltar que quando fui efetuar o pagamento fui informado que o mesmo já havia sido pago. Foi um presente de Natal.

CONSTRUINDO A CONVIVÊNCIA

A partir daí teve início uma grande amizade. Era um companheirão, inicialmente nos momentos mais festivos e nobres. Depois, companheiro de todas as horas, nos tempos de chuva, nos tempo de sol.

Adorava passear e estava sempre disposto a servir. Nunca reclamava. Nem mesmo quando eu descuidava na atenção, no trato, na limpeza, no polimento.

Desejava vida longa para ele e para isso procurei seguir as instruções de  “como conservar e ampliar a vida útil do meu sapato”, disponível neste Blog.

No meu íntimo, não desejava me separar dele, mesmo que viesse “a abrir o bico”, falar mal de mim, abrir lateralmente na altura do dedo mindinho, deixando molhar meus pés.

Mas com uso e o tempo, como era previsto, ficou debilitado e já não estava “dando no coro” mas o solado estava perfeito. Foi preciso passar por uma pequena “cirurgia plástica”.

A RENOVAÇÃO, O PERDÃO, O AGRADECIMENTO

Rejuvenescido, passamos nova temporada juntos, em simbiose. A vida é assim. É preciso buscar sempre a renovação, revitalização, ressocialização, reciclagem. Dissimular, perdoar, pedir perdão e nunca esquecer de agradecer.

Os administradores de empresa recomendam que a vida deve ser sempre planejada, organizada, dirigida, controlada, avaliada, reavaliada, replanejada. É um ciclo.

Passado um bom tempo, num sábado à tarde comecei a separar algumas peças de roupas para doação. Com a idade, com o conhecimento e com a experiência a gente vai ficando mais tolerante, mais humilde, mais generoso. Também separei alguns pares de sapatos mais gastos e uns em desuso.

Foi quando olhei para o sapato velho e de forma inoportuna, perguntei: Você quer ir, sapato velho?”

“Nem pensar”, ele respondeu. “Gosto daqui”.

Satisfeito com a resposta, retribuí fazendo aquele trato e um belo polimento e enquanto fazia este procedimento pensava nas palavras, no poder das palavras e no estrago que as mesmas provocam quando mal colocadas, quando colocadas na hora inoportuna e da forma como são colocadas.

Agradeci mais uma vez pela convivência e pelos serviços prestados por todos esses anos, sempre sem reclamar, às vezes enfrentando pisos adversos, ou molhados ou pedregosos. Não reclamou nem mesmo quando foi avariado pelo Pet.

SAPATO X PET

Falar nisso, muito cuidado!. Na vida moderna, às vezes você sai as pressas, deixa o pet sozinho trancado em casa, não confere água, ração, brinquedos e quando chega, é aquele susto. O pet mordeu e estragou o sapato, quase sempre o melhor sapato.

Mesmo avariado, ele nunca reclamou, pelo contrário. Estava sempre disponível e até parecia envaidecido, alegre e feliz, quando era escolhido entre os outros mais novos.

ACHAR BOM ESTÁ JUNTO

Meu sapato velho, apesar de bastante utilizado, ainda tinha seu charme, ainda era aquele sapato estiloso de cromo alemão. E era o que eu mais gostava. Achava de fácil convivência e, o principal:achava bom está junto.

Quanto mais o tempo passava, mais eu comprovava sua humildade, sua simplicidade, sua discrição, sua virtuosidade, seu valor. Parecia confiável.

Você me entendia e eu procurava lhe entender.

Lógico que não se deve guardar tudo que é gasto, envelhecido ou em desuso. Mas esse sapato amigo, era diferenciado. Aprendi muito com ele. Aprendi que não se deve descartar um sapato velho até ver se vai se acostumar com o novo.

Hoje está ocupando um espaço nobre, entre os mais importantes e entre alguns nunca usados. Falar em “nunca usados” é comum morrer alguém e um membro da família relatar ter encontrado no guarda roupa, perfume importado lacrado, camisa nova na embalagem e pares de sapatos novinhos, na caixa. Passei a cultivar o hábito: comprar, usar. Levei ao pé da letra. Tanto é que no Shopping Estação das Águas , entrei na “Forever” e cabei comprando um blazer por achar que vestiu bem e o preço acessível. No pacote da loja, perguntei para a funcionária se podia sair vestido com o Blazer. Diante da sua afirmativa, assim saí, alegre e feliz, pensativo, mas  com a pequena nota fiscal na mão. Foi minha salvação ao ser abordado pelo fiscal…

A TOLERÂNCIA E O PERDÃO

Pois é, voltando ao meu querido sapato velho, eu conheço suas muitas virtudes e seus poucos defeitos e você os meus. E nos toleramos, nos aceitamos. Muitas vezes nós nos perdoamos.

Brindamos juntos muitos momentos de conquistas e alegrias. Quando não existia motivos aparentes, brindávamos à saúde, a paz e a própria vida. Vencemos juntos os poucos momentos de adversidades.

A vida continua. O tempo de vida que temos para desfrutar de hoje em diante é bem menor do que os já desfrutados e devem ser desfrutados com bastante qualidade e sabedoria.

Ainda bem que ficam as lembranças para contar como foi a sua vida e restam as saudades para lembrar a falta que você faz ou fará.

É como diz a música sapato velho do sexteto Roupa Nova:

Fica a lembrança de “andar bem mais de mil léguas para poder buscar flores de maio azuis para enfeitar os cabelos dela”;

Fica a lembrança dos bailes, dos passos de boleros, de valsas românticas;

Fica a lembrança das idas e vindas ao shopping, ao teatro, à Igreja, aos casamentos, aniversários, visitas a parentes e amigos.

Fica a lembrança das idas e vindas aos cursos de pós, especialização, M.S., em eventos e encontros técnicos e científicos: Congressos, semanas, jornadas, simpósios, seminários e outros.

Na área esportiva fica a lembrança do jogo Brasil 2 X 0 Japão no Serra Dourada e do Vila Nova 1 X 3 Ceará em pleno “Oba Oba”.

E para finalizar, fica a lembrança do nosso trato: continuar sempre juntos, aqui e na outra vida.

Muito obrigado, sapato velho.

Muito obrigado à você, caríssimo leitor. VOCÊ JÁ PRATICOU UMA BOA AÇÃO HOJE? Para maiores informações, orientações e indicações, CONSULTE O MEU OU O SEU QUERIDO SAPATO VELHO.

Até a próxima. Aloízio Apoliano Cardozo. Goiânia (GO) outubro de 2019 – BRASIL.

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