PÁSSAROS: SOLTOS OU NA GAIOLA?

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pássaros, soltos ou na gaiola?

A título de introdução, além de falar a respeito da criação de pássaros, peço permissão a vocês para comentar um pouquinho sobre minha história. 

O PRIMEIRO EMPREGO

Após formar em Medicina Veterinária, participar de um curso de ornitologia no Instituto Biológico de São Paulo, fazer concurso e passar por várias fases seletivas, assumi meu primeiro emprego na Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Goiás (ACAR-GO).

Foi minha grande escola. O trabalho era levar os ensinamentos teóricos e práticos aos produtores e sua família, alcançando o maior número de pessoas.

pássaros, soltos ou na gaiola?

PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE

A orientação era a busca da maximização da aplicação dos recursos financeiros, humanos e materiais para alcançar maior produção e produtividade agropecuária e o consequente aumento da qualidade de vida das famílias do meio rural.

Nos dias programados, lá ia o Extensionista e a Assistente social, em um “Jeep “ou “Gurgel”, preparados para realizar a nobre função que tanto nos deixava felizes, orgulhosos e envaidecidos. Nem mesmo os imprevistos, a poeira, os inúmeros colchetes, porteiras, pontes e mata-burros, chuvas e a fiscalização dos superiores tiravam o ânimo.  A paisagem era encantadora.  Rios, matas, pastagens, gado, lavouras, pássaros e aves silvestres se alimentando no meio das pastagens.

TRABALHO EM GRUPO

Ensinávamos a fazer, fazendo, tanto a parte agropecuária como a parte doméstica e social. Para isso, estudávamos bastante, sempre procurando a educação continuada para aumentar a curva de conhecimento e a experiência.

O trabalho era realizado em grupo no próprio curral, embaixo de uma mangueira frondosa, ou na varanda da casa sede.

Lembro que numa varanda da casa sede, havia uma gaiola com um “bicudo” cantador que o proprietário se vangloriava de ter recusado um carro novo em troca.

AUTO AVALIAÇÃO

Durante o regresso de cada trabalho, fazíamos uma auto avaliação dos pontos positivos e negativos, visando aprimorar cada vez mais o trabalho.

Assim é a vida. A gente está sempre avaliando e sendo avaliado, especialmente no trabalho. A empresa estabelece resultados a serem alcançados, acompanha o processo do trabalho, fornece um feedback, promove e estimula o desenvolvimento e aproveitamento das potencialidades como um todo.

No interior não havia muitas opções de lazer. Uns escolhiam pescar, tomar cerveja nos botecos, jogar carteado e outros caçar.

Adquiri uma espingarda de chumbinho e passei a conduzi-la nas viagens, e no caminho, quando avistava codorna, inhambu ou perdiz se alimentando nas pastagens, parava o Gurgel ou o Jeep, mirava a espingarda e atirava.

Às vezes acertava, as vezes errava. Confesso que não era um bom atirador.

O fato era que, a Assistente Social que me acompanhava, a quem eu sempre chamava de dona Zilda, não se manifestava e ficava passiva diante da cena. Eu era o chefe rs. Isto aconteceu por alguns anos.

APERFEIÇOAMENTO.

Depois, seguimos caminhos diferentes. Eu promovido, modéstia à parte, por mérito à função de Supervisor Regional da região oeste do estado e mais tarde passando num teste seletivo e ingressando na Universidade Federal de Viçosa para fazer o curso de Mestrado. Após a conclusão do curso retornei ao escritório central para exercer a função de gerência de um setor.

Tempos depois, retornando aos locais agora com extensas áreas com plantio de orizícolas (Do latim oriza, “arroz” + colere) época de colheitas, tomei conhecimento da grande mortandade de aves, pássaros silvestres e peixes e da ação enérgica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ora fiscalizando, ora punindo, mas também orientando o uso de espantalhos e sons, dentre outros, para espantar as aves.

O REENCONTRO

Certo dia veio a grande surpresa: o reencontro.  

A Assistente Social com quem tive a honra de trabalhar, estava ali na minha sala, com a mesma aparência, sóbria, discreta, centrada e ligeiramente austera.

Relembramos momentos do nosso trabalho, recordamos as inúmeras sementes que plantamos, do aprendizado, quando ela pediu para me revelar um segredo:

“Dr. Sabe naquelas nossas viagens às propriedades rurais que o senhor quando avistava codornas, inhambu ou perdizes se alimentando no meio das pastagens e parava o Gurgel, as vezes era um Jeep antigo e sorrateiramente apontava a espingarda e disparava?”

Pois bem, Ela revelou: “naqueles momentos eu, silenciosamente, fazia minhas orações para que o senhor errasse o tiro.”

Confesso que essa declaração mudou, para melhor, minha maneira de ver e agir diante várias situações.

LIBERDADE

No mesmo dia cheguei em casa e abri as portinholas das gaiolas. A seguir posicionei vários comedouros suspensos na varanda e diariamente passei a abastecer com mistura de quirera, painço e água limpa à vontade. A partir daí passei a contemplar a chegada, cada vez mais crescente, de rolinhas, pássaro preto, ararinhas, canários da terra, felizes, embora se engalfinhando   de vez em quando. É a luta pela sobrevivência. O mesmo acontece com a nossa espécie e de forma bem mais cruel. Os jornais e as tevês que os digam.

Assim, escrevendo esse texto, e maravilhado com o visual dos pássaros nos comedouros da varanda, fiquei a pensar e refletir sobre a importância e o “sabor” da liberdade, do viver em paz, com saúde e segurança.

Mas, no dizer do pensador Carlos Drummond de Andrade não há liberdade em vida. Nem mesmo para os pássaros. ” O pássaro é livre na prisão do ar. O espírito é livre na prisão do corpo. Mas livre, bem livre, é mesmo estar morto.”

Eu com o lápis, escrevendo em uma folha de papel; as gaiolas abertas; os pássaros livres, eu pensava: Viva a liberdade. Liberdade com responsabilidade tanto no sentido físico, cível, de pensamento e expressão, sexual. Liberdade moral, capacidade humana para escolher ou tomar decisões racionais e assumir as consequências dos atos.

Com a campanha de desarmamento promovido pelo governo, resolvi dar um destino a minha espingarda.

Quanto ao “destino da espingarda” recomendo que leia em outro artigo, neste Blog. Muito obrigado.

VOCÊ JÁ PRATICOU UMA BOA AÇÃO HOJE? Proteja os animais. PARA MAIORES INFORMAÇÕES, ORIENTAÇÕES E INDICAÇÕES, CONSULTE SEMPRE UM MÉDICO VETERINÁRIO.

Leia também: MEU QUERIDO SAPATO VELHO: UMA PEQUENA CRÔNICA DA VIDA REAL.

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Aloizio Apoliano
O Blog meu pet saudável foi criado pelo Médico Veterinário Aloízio Apoliano Cardozo, M.S. pela U.F.V. MG, pós graduação em Clínica Médica Cirúrgica de Pequenos Animais pela Qualittas, pós graduação em dermatologia pela Equalis e participação em vários eventos como Congresso, Simpósio, cursos, palestras , dentre outros, promovidos pela Qualittas e ANCLIVEPA. Atuou por diversos anos prestando Assistência Técnica e Extensão Rural, teórica e prática, com metodologia grupal, aos pecuaristas pela ACAR-GO (Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Goiás) e EMATER-GO ( Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Goiás). É Diretor do Consultório Veterinário Popular e proprietário de uma loja de Produtos Veterinários: medicamentos, rações, vacinas e acessórios diversos para pet. Trabalhou como voluntário plantonista no Centro de Valorização da Vida (CVV) e no Hospital das Clínicas(HC) da UFG, fazendo palestras para os pacientes, sobre estilo de vida, alimentação saudável e mensagens musicais; participou de vários cursos de dança de salão com professores Jaime Aroxa e Carlinhos de Jesus; foi fundador da Academia de Dança Bolero Passos e Compassos: ministrou curso de dança de salão para pessoas carentes na Paróquia São francisco de Assis contribuindo para um crescimento físico, moral e espiritual. É sócio da Associação Nacional de Clínicos de Pequenos Animais e possuidor do selo de qualidade ANCLIVEPA -BRASIL.

2 COMENTÁRIOS

  1. Ótimo texto, acredito que a liberdade seja a melhor expressão de amor a vida.
    Deixar a amor voar livremente para fazer a diferença na vida das pessoas 🥰

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